De André Machado, jornalista da RBS
(http://wp.clicrbs.com.br/andremachado/2010/06/15/nao-torco-contra-a-argentina/?topo=77,1,)
Não torço contra a Argentina
15 de junho de 2010
Em época de Copa do Mundo há um esporte que anima mais uma parcela da torcida brasileira do que o próprio futebol: torcer contra a Argentina. Torcer contra é um costume arraigado do qual devemos – mas não conseguimos – nos afastar. É assim que se dá na rivalidade Gre-Nal. Como o clássico do continente é verde-amarelo x azul-branco, o mesmo comportamento é transposto para uma guerra entre nações.
Se estivéssemos falando de um comportamento natural do torcedor brasileiro poderia até ser aceitável. Mas não é. O torcer contra a Argentina vem sendo fomentado nas manchetes da imprensa e, especialmente, pela publicidade que trata nossos vizinhos como se fossem uns idiotas. Não os são. Desde quando dia de jogo da Argentina é dia de secar? Para mim, não. Nem mesmo o passado de Maradona justificaria.
Será à toa que levas de brasileiros lotam os restaurantes de Buenos Aires atrás de carne de qualidade? Gostamos ou não dos argentinos? Não é à toa que consumimos cada vez mais os vinhos produzidos em Mendoza. Somos todos latino-americanos. Todos irmãos. Então porque torcer para países distantes como a Nigéria, Coréia do Sul ou a Grécia se posso torcer pelos meus vizinhos? Além do Brasil, nesta Copa do Mundo torço pelo Uruguai, Paraguai, Chile e Argentina.
Na Copa de 2006 estava em Buenos Aires. Uma grande experiência. Sentado em um café da Corrientes vesti uma camisa da seleção de rúgbi argentina e vibrei com uma goleada de seis a zero sobre a Sérvia e Montenegro. Fui bem recebido no meio da torcida. Gostaria de seguir freqüentando ambientes como estes sem a hostilidade que estamos tentando agora impor. E não me lembro de ver nos comerciais da televisão de lá alguma agressão a brasileiros.
A doutouranda em Psicologia Social pela PUCRS, Carla Albert, é argentina e vive no Brasil há 22 anos. Ela compara o que está sendo feito por aqui com seus compatriotas à prática do bullying. Trata como um incentivo à fobia. “Se mudássemos os argentinos dos comerciais por gays, negros, gordos ou loira isto não configuraria uma agressão à dignidade?”, questiona. E ela destaca para termos agressivos e pejorativos que são utilizados em um comercial de cerveja. Termos que seriam inaceitáveis se estivessem na língua portuguesa.
Vamos torcer contra os argentinos na Libertadores ou então no momento em que enfrentarem o Brasil em qualquer etapa de qualquer torneio. Mas este torcer contra não pode vir carregado de hostilidade. O Brasil vive hoje um melhor momento econômico do que a Argentina, mas que não permite que nos inflemos com uma arrogância inaceitável. Somos irmãos e somos parceiros. Jamais inimigos. Que ganhe o Brasil. Se for sobre a Argentina, melhor. Mas sempre com respeito.
Estamos pecando.
* Artigo publicado na ZH desta terça-feira.
3 comentários:
Quem escreveu este post? Continuo dizendo que não gosto de argentino. Mas as argentinas eu adoro!!!...rsrsrsrsr!!! Penta Campeão, Penta Campeão!!! Maricón, Maricón!!!...rsrsrsrsrssrs!!!
Olha, eu tbm torço pela Argentina, inclusive tenho outras seleções de preferecia.....são elas: Brasil; Alemanha; Itália; Inglaterra; França; Espanha; Polónia; Países Baixos; Hungria; Suécia; Rússia; Uruguai; Sérvia; República Tcheca; Áustria; México; Bélgica; Eslováquia; Portugal; Romênia; Suíça; Chile; Paraguai; Dinamarca; Estados Unidos; Croácia; Escócia; Coreia do Sul; Bulgária; Turquia; Camarões; Peru; Irlanda; Nigéria; Colômbia; Costa Rica; Marrocos; Equador; Noruega; Senegal; Japão; Arábia Saudita; Ucrânia; Gana; África do Sul; Tunísia; Argélia; Austrália; Irã; Coreia do Norte; Cuba; Costa do Marfim; Jamaica; Honduras; Angola; Israel; Egipto; Kuwait; Trinidad e Tobago; Bolívia; Iraque; Eslovénia; Togo; Canadá; Emirados Árabes; China; Nova Zelândia; Grécia; Haiti; Zaire; El Salvador; e finalmente ARGENTINA
Parece moda falar de bullying, como se há anos os professores e as escolas não convivessem com o problema. Agora, fazer tal analogia à rivalidade entre os times de Brasil e Argentina? Por favor, nem parece que estamos tratando de futebol, que me perdoem os sociólogos e psicólogos!
Nunca entendi nem entenderei a rivalidade gratuita, é bem verdade, mas isso nunca foi óbice a que os hermanos fossem (e são) bem recebidos, há anos, nas praias da minha ilha natal, Florianópolis, nem impediu que grandes clubes brasileiros contratassem jogadores argentinos para o seu elenco. Indago: a recíproca seria a mesma?
Assim como los hermanos procuram bons frutos do mar na minha cidade, o que há de errado em procurar um bom churrasco no país vizinho, ainda que aqui no sul, no Cirrose, tenhamos o melhor churrasco do mundo?
Não vejo problema algum. Vamos torcer pelo Brasil, e continuar a torcer contra o "time" da argentina, e não contra os argentinos.
Gustavo V de B Pavan
Vice-Presidente do CFC
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